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A visão dos mortos que não morreram
Era 1849. Ellen White tinha apenas 21 anos, mas já era conhecida como profetisa. Uma epidemia de cólera assolava os Estados Unidos. Então ela teve a “visão dos mortos que não morreram”.
“Mortos e moribundos por todo lado”1
Naquela época James (Tiago) White, o marido da Ellen, tinha começado a publicar Present Truth, a primeira revista da religião que mais tarde viria a ser conhecida como adventismo do sétimo dia.
Na edição de setembro de 1849 da revista, James publicou a visão da Ellen:
O que nós temos visto e ouvido da epidemia é apenas o princípio daquilo que nós veremos e ouviremos. Logo os mortos e moribundos estarão por todo lado. Vi que alguns estarão tão endurecidos a ponto de zombar dos juízos de Deus. Então os mortos pelo Senhor estarão desde uma extremidade da terra até a outra; não serão pranteados, nem recolhidos, nem sepultados; mas seu mau cheiro subirá da face de toda a terra. Somente os que têm o selo do Deus vivo serão abrigados da tempestade da ira, que logo cairá sobre as cabeças dos que rejeitaram a verdade.2
Para alguém entender qualquer texto, precisa conhecer seu contexto. Isso também se aplica à visão da Ellen.
Os antecedentes da profecia
Em 1832, ou seja, 17 anos antes, tinha ocorrido um surto de cólera. Mas as pessoas não haviam aprendido a lição e não tomaram os cuidados necessários para evitar que ela voltasse. Isso contribuiu, em parte, para o ressurgimento assustador de um novo surto em 1849.
A predição feita pela Ellen é que aquela epidemia de cólera seria muito pior do que a epidemia de 1832.
Uma interpretação forçada
Como desculpa para o não cumprimento da profecia, líderes adventistas costumam dizer que, nos dois parágrafos anteriores em que a Ellen relata sua visão, Cristo ainda está no santo Templo e que ela empregou verbos no tempo futuro, deixando implícito que Cristo ainda iria deixar o Santo dos Santos [ou Lugar Santíssimo] celestial. Para os adventistas, “está bem claro que Ellen White acreditava que a crise final ainda era futura”.3
Em outras palavras, o que os defensores da Ellen estão alegando é que tudo isso ainda vai acontecer no futuro, quando Cristo terminar o juízo investigativo e sair do Santo dos Santos celestial.4
Uma interpretação honesta
As exatas palavras da Ellen foram: “O que nós temos visto e ouvido da epidemia é apenas o princípio daquilo que nós veremos e ouviremos”. Acontece que a palavra “princípio” significa o momento em que alguma coisa começa. Não importa o sentido que você queira atribuir à palavra, o fato é que Ellen White não poderia ter usado a palavra “princípio”, caso acreditasse que a praga da cólera não tinha relação com a crise final. Uma análise cuidadosa e desapaixonada das palavras da Ellen mostra que ela acreditava que aquela epidemia era o começo do fim.
Além disso, ela declarou que “aquilo que nós temos visto e ouvido” é o princípio daquilo que “nós” veremos. O que Ellen e outros vinham vendo? Era pessoas mortas e outras quase mortas como resultado da epidemia de cólera. E o que ela acreditava que ela mesma e os outros veriam? Era mortos e moribundos “por todo lado … desde uma extremidade da terra até a outra … [em] toda a terra”. Note bem: ela não disse “os cristãos verão”, mas “nós veremos”. Ou seja, pessoas vivas naquela época veriam.
Por fim, é preciso levar em conta o contexto imediato, isto é, outras coisas que a Ellen escreveu naquele mesmo artigo. Por exemplo, ela afirma que “logo será decidida a situação de cada um, seja para vida seja para morte”. 5 E mais adiante, no mesmo artigo, relata: “o Senhor me mostrou que almas preciosas estão morrendo de fome e perecendo por lhes faltar a verdade … mensageiros devem se apressar”.6 Essas palavras não deixam dúvida de que, diante daquela situação, a Ellen considerava iminente o juízo final (“logo será decidida a situação”) e mostrava a necessidade de haver mais gente pregando a mensagem adventista (“mensageiros devem se apressar”).
Diante disso, fica claro que a interpretação dos adventistas, que foi apresentada mais acima, é forçada e deve ser rejeitada.
Conclusão
Todas as pessoas daquela época morreram há muito tempo, mas não da forma predita pela Ellen. A cólera não se espalhou. Não houve “mortos e moribundos por todo lado”. Foi apenas um surto localizado.
Com sua “visão dos mortos que não morreram”, a Ellen demonstra que não tem direito ao título de mensageira do Senhor.
Para reflexão
- Que detalhes da profecia mostram que aquela foi uma profecia sobre a época da própria Ellen White e não sobre o futuro distante?
- Por que a Ellen errou nessa profecia?
1. Esta postagem é uma tradução e adaptação de um trecho do capítulo 5 (“Was Ellen White a true prophetess of God?”) do livro digital Seventh-day Adventists, de autoria de Carol Brooks. (Disponível em: https://www.inplainsite.org/html/sda_ellen_white_prophecy_.html. Acesso em 5 fev. 2020.) 2. Original: “What we have seen and heard of the pestilence, is but the beginning of what we shall see and hear. Soon the dead and dying will be all around us. I saw that some will be so hardened, as to even make sport of the judgments of God. Then the slain of the Lord will be from one end of the earth, to the other; they will not be lamented, gathered, nor buried; but their ill savor will come up from the face of the whole earth. Those only who have the seal of the living God, will be sheltered from the storm of wrath, that will soon fall on the heads of those who have rejected the truth.” (Present Truth, 01 set. 1949. Disponível em: https://m.egwwritings.org/en/book/517.26. Acesso em 5 fev. 2020.) Nas citações as palavras em negrito são do autor da postagem. 3. Jud Lake, “Pestilence prophecy”. Disponível em: http://www.ellenwhiteanswers.org/media/pdf/ellen-white-pestilence-prophecy.pdf. Acesso em: 5 fev. 2020. 4. A saída de Cristo do Santo dos Santos ???uário celestial é uma doutrina exclusiva dos adventistas, não aceita por nenhuma outra igreja cristã. 5. Original: “very soon, every case will be decided, either for Life, or for Death”. 6. Original: “The Lord has shown me that precious souls are starving, and dying for want of … truth; swift messengers should speed on their way”. |