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Para explicar a origem de adventistas.com.br, preciso contar um pouco de minha vida.
É que, ao longo de minha vida, tenho tido contato com várias pessoas da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Minha infância e o adventismo
Nasci em lar evangélico há 66 anos. Meus pais eram presbiterianos, como também eram meus avós. Na verdade, minha avó materna havia sido presbiteriana, mas mais tarde se tornou adventista do sétimo dia. Duas tias, filhas dessa avó, também se tornaram adventistas.
As lembranças de infância não são suficientemente claras para mostrar o que aconteceu quando eu era criança. Só há poucos anos, conversando com meu pai, a ficha caiu.
Meus avós maternos viviam na mesma casa, mas não dormiam na mesma cama. Quando criança, a gente não dava atenção a esse tipo detalhe. Ou pelo menos eu, que sou desligado, é que não dava.
O adventismo os havia separado. Uma das tias também se separou do marido. No caso dessa tia — não digo com certeza —, parece que a religião também tinha provocado o fim do casamento. A outra tia teve um AVC ainda nova, e, em algum momento, o marido passou a ter relacionamento com outra mulher.
Não posso generalizar, mas, na minha experiência, o adventismo não une, mas separa.
Adolescência e juventude
Muitos anos se passaram. Aos quinze anos me converti a Jesus Cristo.
Fui estudar teologia. Iniciei os estudos no Instituto Bíblico Palavra da Vida (hoje Seminário Bíblico Palavra da Vida), localizado em Atibaia, SP. Concluí os estudos na Faculdade Teológica Batista de São Paulo.
Uma das disciplinas que tive de fazer em São Paulo foi “Seitas heréticas”. Nessa matéria houve um trabalho em equipe. Ao meu grupo coube fazer um estudo sobre a Ciência Cristã e expor aos colegas de classe as informações colhidas. Um outro grupo ficou encarregado de pesquisar e expor sobre o adventismo, também considerado seita.
Concluí o bacharelado em teologia dezembro de 1975 e fui ordenado pastor em outubro do ano seguinte, inicialmente atuando na Igreja Batista de Freguesia do Ó, na zona norte de São Paulo.
Conversa com um seminarista adventista
Era a primeira metade da década de 1980. Eu agora estava em Piracicaba, no interior do estado de São Paulo, pastoreando a Primeira Igreja Batista daquela cidade.
O evento a seguir deve ter acontecido por volta de 1983. Certa manhã de domingo nos visitou um seminarista adventista. Era colportor. Vendia material de sua igreja. Lembro-me bem: tinha revistas Vida e Saúde e Meu Amiguinho e possivelmente outros materiais adventistas para vender.
Foi uma conversa para lá de interessante. Eu disse ao rapaz que conhecia o material, mas não permitiria sua venda na igreja, pois ali havia ideias que conflitavam com ensinos bíblicos. Ele quis saber mais. Expliquei que, por exemplo, a revista Vida e Saúde ensinava algo que não está na Bíblia, a saber, que é errado comer carne.
Apresentei a ele a passagem bíblica de Gênesis 9.3: “Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora.” Mostrei-lhe que até então as pessoas podiam se alimentar apenas de vegetais e que a partir de Noé os seres humanos tiveram permissão divina para comer de toda e qualquer carne! Só séculos mais tarde é que, sob Moisés, haveria proibição de comer determinados tipos de carne, como a carne de porco. Poderia também ter apontado para Marcos 7.19, que ensina que Jesus “considerou puros todos os alimentos”, ou para Romanos 14.14, quando Paulo diz que “nenhuma coisa é de si mesma impura”.
Naquele domingo a igreja teria um almoço especial. Seria feijoada. Talvez eu tenha errado, mas convidei o jovem adventista para almoçar feijoada conosco.
Muitos outros anos se passariam, sem nenhum outro contato com adventistas.
Conversa com Gerhard Hasel
Em 1992, depois de oito anos lecionando na Faculdade Teológica Batista de Campinas, ganhei uma bolsa de estudos de um ano, uma espécie de ano sabático, e fui estudar no Bethel Theological Seminary, em Minnesota, nos Estados Unidos. (O Bethel é uma instituição filiada à Baptist General Conference, um grupo batista relativamente pequeno que tem missionários em vários países do mundo, inclusive o Brasil.)
Enquanto estava ali no Bethel, houve uma série de conferências teológicas em que Gerhard Hasel foi o preletor. Hasel, que veio a falecer anos depois em um trágico acidente de automóvel, era destacado professor e teólogo ligado à Universidade de Andrews, a principal instituição educacional no mundo adventista.
Lembro-me bem de uma situação pitoresca envolvendo Hasel num dos dias em que esteve ali no Bethel. Daniel Block, na época professor de Velho Testamento no Bethel, convidou a mim e a alguns outros colegas para almoçarmos com ele e o Hasel. À mesa, no restaurante, perguntaram ao convidado se gostaria de beber uma Coca-Cola. Tenho certeza de que, das oito ou nove pessoas ali na mesa, eu era o único que sabia que adventistas não tomam Coca-Cola, pois contém cafeína. Com toda educação, o Hasel agradeceu e disse que preferia uma soda limonada.
Àquela altura eu já estava considerando a possibilidade de fazer um doutorado na área de Velho Testamento ou de antigo Oriente Próximo e também cogitando onde estudar. Hasel tinha profundo conhecimento na área de arqueologia bíblica, tendo excelente conhecimento do Velho Testamento e do antigo Oriente Próximo.
Após o almoço com o Hasel, perguntei a ele se podíamos conversar. Gentilmente atendeu ao meu pedido, e batemos um papo por uns 20 minutos ali na biblioteca do Bethel Seminary. O assunto foi obviamente possíveis escolas para um doutorado. Apesar de não ter podido sugerir nenhuma, ele foi extremamente atencioso comigo. Tenho grata recordação daquela conversa.
Convite para escrever capítulo de livro editado por adventistas
Voltei dos Estados Unidos, fiquei 3 anos no Brasil e, então, fui fazer doutorado na Escola de Arqueologia da Universidade de Liverpool, na Inglaterra.
Concluídos os estudos, retornei ao Brasil em 2001, indo lecionar na Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA), uma instituição evangélica situada em Londrina.
Por volta de 2003 ou 2004 recebi o gentil convite para escrever um capítulo para um livro acadêmico a ser publicado por uma universidade adventista de língua espanhola. O capítulo abordaria alguns detalhes do livro de Reis, que foi parte de minha pesquisa de doutorado.
Foi com muito prazer que aceitei o convite. Mas, infelizmente, circunstâncias que não vêm ao caso me impediram de concluir o texto dentro do prazo combinado, o que inviabilizou sua publicação.
Conhecendo adventistas em faculdade teológica não adventista
Na FTSA também fui coordenador de pós-graduação. Abrimos um doutorado em ministério, no qual tivemos alguns alunos adventistas do sétimo dia.
Não cheguei a ter o privilégio de dar aulas àqueles adventistas, mas foi ótimo tê-los conhecido e conversado com eles.
Em Terra Rica, PR
O mundo deu voltas. Em 2007 saí de Londrina, passei cerca de ano e meio em Maringá e oito anos em Curitiba. Então, no final de 2017, voltei a Londrina, onde fiquei pouco mais de um ano.
Desde o início de 2019 resido Terra Rica, cidade no norte pioneiro do Paraná, onde travei amizade com alguns adventistas, com os quais tenho tido oportunidade de ter boas conversas. Isso me levou a um estudo mais cuidadoso e profundo dos ensinos e práticas adventistas.
A criação do site
Com o objetivo de expor o resultado desses estudos e de outros que continuo fazendo, criei este site.
Não combato os adventistas. Não são meus adversários, mas pessoas a quem quero bem. São vítimas de erros que começaram a ser ensinados no século 19 e são perpetuados até hoje.
Não rejeito os adventistas, mas os ensinos que a maioria deles aceita de boa fé.